[…] Enquanto estivemos à missa e a à pregação, seria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos como a de ontem, com sem arcos e setas, a qual andava folgando. E olhando-nos, sentaram-se. E, depois de acabada a missa, assentados nós à pregação, levantaram-se muitos deles, tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e a dançar um pedaço. […] Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, por que eles, segundo parece, não têm nem entendem nenhuma crença. […] Portanto, Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da sua salvação. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim. Eles não lavram, nem criam. Não há boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa somente e fruitos, que a terra e as árvores de si lançam.[…] Nela, até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisas alguma de metal ou ferro, nem lho vimos. Porém a terra em si é de muitos bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. […] Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé”.

Por Luís Fernando

[…] Enquanto estivemos à missa e a à pregação, seria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos como…

“Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente, dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos? Ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal, e à terra – Terra da Vera Cruz. […] Dali avistamos homens que andavam pela praia obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro […] Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Deu-lhes somente um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira. A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como furador. […] Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas.

Por Luís Fernando

“Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente, dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras…